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Cristãos na mira: perseguição cresce enquanto a ONU se cala

Ao longo do século XX, regimes totalitários — tanto comunistas quanto nacional-socialistas — foram responsáveis por massacres e perseguições contra cristãos.

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Welker Miranda é formado em Licenciatura em História, com especializações lato sensu em Educação a Distância, Docência no Ensino Superior, Filosofia e Sociologia. É também discente nas áreas de Estudos Teológicos, História do Cristianismo e Pensamento Cristão. Atua como professor de História, Filosofia e Sociologia na rede particular de ensino. É autor de dois livros, atualmente, é diácono e professor de Escola Bíblica Dominical na Igreja Presbiteriana do Brasil. Além da docência, é colunista de sites, onde escreve sobre temas ligados à fé, cultura, política, história e pensamento cristão.

 

No dia 23 de setembro de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, discursou na Assembleia Geral da ONU por quase uma hora. Em meio a críticas à organização internacional, às políticas climáticas e à imigração descontrolada na Europa, uma declaração específica chamou atenção: ele afirmou que o cristianismo é, atualmente, a religião mais perseguida do mundo (BBC Brasil, 2025). A fala não surpreendeu apenas pelo tom direto, mas por expor uma realidade que, embora evidente em diversas regiões, é sistematicamente ignorada por grande parte da comunidade internacional.

Ao longo do século XX, regimes totalitários — tanto comunistas quanto nacional-socialistas — foram responsáveis por massacres e perseguições contra cristãos. A União Soviética, a China maoísta, Cuba e o Vietnã reprimiram igrejas, prenderam líderes religiosos e demoliram templos, pois viam a fé cristã como obstáculo à autoridade do partido (VOLOKH, 2016). No nazismo, apesar da cumplicidade de alguns setores, muitos cristãos foram mortos por resistirem ao regime, entre eles Dietrich Bonhoeffer, símbolo da resistência teológica ao totalitarismo. No Oriente Médio e no norte da África, a ascensão de grupos fundamentalistas islâmicos — como Talibã, Al-Qaeda, Boko Haram e Estado Islâmico — intensificou, sobretudo a partir da década de 1990, uma onda de violência que segue até hoje (PORTAS ABERTAS, 2024).

O século XXI, em vez de aliviar essa situação, tornou-a ainda mais grave. Mesmo em uma era de maior acesso à informação e discursos constantes sobre direitos humanos, a intolerância contra cristãos só cresce. Segundo a Missão Portas Abertas, mais de 360 milhões de cristãos sofreram perseguições severas em 2023; em 2024, o número subiu para 365 milhões. A Coreia do Norte mantém-se como o país mais hostil à fé cristã, seguida por nações como Somália, Iêmen, Nigéria, Paquistão, Irã e Afeganistão (PORTAS ABERTAS, 2024). Esses números não refletem apenas pequenas restrições, mas também prisões arbitrárias, torturas, mortes, destruição de igrejas e separação de famílias.

As causas variam conforme o contexto. Em países islâmicos radicais, a conversão ao cristianismo é considerada apostasia e punida com prisão, tortura ou morte. Grupos jihadistas classificam cristãos como inimigos, rotulando-os de “infiéis” ou agentes do Ocidente. Já nos regimes comunistas e socialistas, como na China, na Coreia do Norte ou em Cuba, a fé cristã é vista como ameaça ao poder estatal, por apontar uma lealdade maior do que a oferecida ao partido. Igrejas são fechadas, cultos são monitorados e pastores enviados para “reeducação” (VOLOKH, 2016). Em outros lugares, como Índia e Mianmar, o nacionalismo religioso — hindu ou budista — também alimenta ataques e violência contra comunidades cristãs (OPEN DOORS, 2023).

Diante desse cenário, o silêncio da ONU é gritante. Criada para defender os direitos humanos, a instituição evita abordar a perseguição religiosa de forma direta, sobretudo quando envolve cristãos. Parte dessa omissão se deve ao fato de que muitos países perseguidores são membros ativos da organização, como China, Irã e Paquistão. Além disso, existe uma excessiva cautela diplomática diante do islamismo radical, por receio de acusações de islamofobia. Some-se a isso a priorização de outras pautas — como mudanças climáticas, imigração e questões de gênero — que acabam relegando a liberdade religiosa a segundo plano. É impossível ignorar, também, a crescente influência de uma ideologia globalista que se choca frontalmente com os princípios cristãos, os quais defendem valores imutáveis e absolutos.

Nesse contexto, a denúncia feita por Trump, ainda que envolta em sua retórica polêmica, expõe uma realidade incontornável: o cristianismo é, sim, a religião mais perseguida do mundo. Milhões de cristãos enfrentam diariamente violência, humilhação e até morte, enquanto a comunidade internacional reage com discursos vazios ou, pior ainda, com indiferença.

Contudo, essa perseguição não é novidade para a fé cristã. Desde os evangelhos, Jesus alertou seus discípulos de que seriam perseguidos por causa da justiça, mas também prometeu que o Reino dos Céus pertence a eles: “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus. Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês” (Mateus 5:10-11). A esperança, portanto, não está em governos ou organizações internacionais, mas na certeza de que Deus fortalece, recompensa e sustenta aqueles que permanecem fiéis em meio ao sofrimento.

A grande pergunta que fica é: quantos mais precisarão ser silenciados ou morrer para que o mundo reconheça essa realidade? Enquanto a ONU e outros organismos fecham os olhos, cabe aos cristãos livres não apenas orar, mas apoiar concretamente e dar voz aos irmãos que, em silêncio, mantêm sua fé inabalável mesmo diante da perseguição.

Referências

BBC BRASIL. Trump afirma que cristianismo é a religião mais perseguida do mundo em discurso na ONU. São Paulo, 23 set. 2025. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese. Acesso em: 24 set. 2025.

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo de Genebra. Tradução de João Ferreira de Almeida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

OPEN DOORS. World Watch List 2023: The top 50 countries where it’s most dangerous to be a Christian. Washington: Open Doors International, 2023. Disponível em: https://www.opendoors.org. Acesso em: 24 set. 2025.

PORTAS ABERTAS. Lista Mundial da Perseguição 2024. São Paulo: Portas Abertas Brasil, 2024. Disponível em: https://portasabertas.org.br. Acesso em: 24 set. 2025.

VOLOKH, Eugene. The First Amendment and Related Statutes: Problems, Cases and Policy Arguments. 5. ed. New York: Foundation Press, 2016.

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